terça-feira, 30 de outubro de 2018

FRAMES-RETRÔ: Na imensidão gelada da Antártica O Enigma de Outro Mundo não está morto ainda

Fábio Pereira
xanderfbi@hotmail.com

Já falei aqui como aprecio alguns dos filmes do cineasta John Carpenter (vide Os Aventureiros do Bairro Proibido – clique e leia o review). Em O Enigma de Outro Mundo (The Thing, 1982), obra-prima do cinema de terror oitentista, o diretor dá uma aula de como se faz um verdadeiro filme do gênero (algo que parece ter se perdido nos tempos atuais, salvo algumas exceções).
Para quem não conhece a trama, tudo se situa na distante Antártica, mais precisamente numa remota estação de pesquisas americana, onde um grupo de cientistas é perturbado por dois homens, num helicóptero, perseguindo um cão pela imensidão gelada. Após a destruição do aparelho e a morte de seus tripulantes, o cão é recolhido à base, mas acaba se revelando uma criatura mortal, que é capaz de fazer uma cópia exata de qualquer ser vivo, absorvendo-o.
Numa época em que os efeitos especiais ainda estavam engatinhando a passos lentos, a equipe de produção de Carpenter conseguiu (com um realismo notável, através de Bonecos Animatrônicos)

Uma das facetas da criatura alienígena

mostrar, com uma ótima caracterização, as diversas facetas da criatura alienígena que assola os cientistas da base americana, num frenesi que chega a revirar o estômago dos mais fracos.
Mas O Enigma de Outro Mundo é muito mais do que sangue e vísceras. O filme, que mantém o espectador atento numa trama tão fantasiosa e assustadora, que chega ao ponto de se tornar quase verossímil, é composto de uma paranoia e uma sensação de insegurança que salta aos olhos. Assim como Ridley Scott conseguiu, em 1979, expor de forma visceral os elementos de confinamento e isolamento em outro grande clássico do terror (Alien – O Oitavo Passageiro), Carpenter foi também bem sucedido em sua película de horror.
Na história, recheada de testosterona, atuações nervosas e envolta pelo medo constante da replicação e morte, é em meio a cientistas e médicos que um líder improvável (e essencial) se sobressai na figura de um simples piloto de helicóptero: R. J. MacReady (o sempre ótimo Kurt Russell) é o protagonista que tem uma participação significativa em toda a trama (inclusive em seu final, que ainda gera dúvidas até hoje).
Clássico do cinema de terror e versão de O Monstro do Ártico (1951), O Enigma de Outro Mundo é o tipo de filme atemporal, com uma trilha sonora sinistra, composta pelo italiano Ennio Morricone, que ainda impressiona mesmo àqueles que não tão fãs do gênero.
Na imensidão gelada da Antártica, O Enigma de Outro Mundo não está morto ainda.


Curiosidades sobre o filme
 

A Verdade Está no Gelo


-O episódio “Terror no Gelo”, da primeira temporada da série de TV Arquivo X é uma homenagem direta ao filme de Carpenter;

 

Com o Google Tradutor, a história seria outra


-“Deem o fora daqui! Isso não é um cachorro, é uma espécie de coisa! Está imitando um cachorro, não é real! Afastem-se dele, seus IDIOTAS” – Esse é o diálogo do Norueguês no início do filme;

 

A dúvida permanece até hoje


-Um final alternativo foi filmado mostrando MacReady resgatado, e tendo feito um exame de sangue provando que ele era humano. Isso foi feito por precaução e nunca usado, nem mesmo para testes, já que não fazia parte da visão original de John Carpenter para o filme.



Citações

“A primeira maldita semana de inverno!” – MacReady.

“Não consigo contatar ninguém há duas semanas! Ninguém deve ter falado com ninguém em todo o Continente, e agora você quer que eu contate alguém?” – Windows.

“Cinco minutos são o suficiente para um homem pirar por aqui.” – Nauls.

“Não sei o que tem aí dentro, mas é estranho e está zangado.” – Clark.

“Porque é diferente de nós. Porque veio do espaço. O que vocês querem de mim?” – MacReady.

“Acham que a Coisa queria ser um animal? Nenhum cão percorre milhares de quilômetros no frio. Vocês não entendem! A Coisa queria ser a gente! Se a célula escapar, poderia imitar tudo na face da Terra e não vai parar!” – Blair.

“Se eu fosse uma imitação perfeita, como saberia se sou eu mesmo?” – Childs.

“Ninguém confia em ninguém agora. Não posso fazer mais nada, a não ser esperar. R.J. MacReady, piloto de helicóptero, Posto 32, EUA.” – MacReady.



O Enigma de Outro Mundo (The Thing, EUA, 1982). Elenco: Kurt Russell, Keith David e Wilford Brimley. Direção: John Carpenter.



TRAILER



Fotos: Divulgação/Internet.
Informações adicionais: IMDB

terça-feira, 8 de maio de 2018

FRAMES-RETRÔ: Uma viagem de carro se transforma num pesadelo quando A Morte Pede Carona

Fábio Pereira
xanderfbi@hotmail.com

Um dos maiores inimigos de um motorista, que dirige por longas horas seguidas, é o sono. Ele, como um vilão silencioso, chega quase sem avisar e diminui drasticamente os reflexos de quem está ao volante. Mas, no universo cinematográfico dos Anos 1980, existe um vilão muito maior e letal, personificado na figura de um simples (porém assustador) desconhecido pedindo carona. Em A Morte Pede Carona (The Hitcher/1986), essa figura sombria batizada como John Ryder é encarnada pelo grande Rutger Hauer (in memoriam), que com sua serenidade ameaçadora criou um dos grandes psicopatas do cinema mundial. É numa paisagem quase desértica que Ryder encontrará (e atormentará) sua vítima mais ilustre (personificada com uma inocência marcante pelo jovem C. Thomas Howell), além da vitima do acaso (Jennifer Jason Leigh, com um sotaque Texano carregado).
Mas A Morte Pede Carona é mais que um thriller de ação (perseguições de carros, helicópteros e explosões estão presentes a toda hora). A trama - que mostra Jim Halsey (C. Thomas Howell, de Uma Família em Pé de Guerra - 1984) levando um carro de Chicago a San Diego (Califórnia) para um dono que nem conhece e se depara com um assustador psicopata - constrói a figura de um

John Ryder: o mal personificado

vilão sem poderes demoníacos, mas que consegue (numa única faceta de pura maldade) infernizar a vida do protagonista com uma implacável eficiência.
Fracasso de bilheteria na época do lançamento, detonado pela crítica, e longe de ser o filme favorito de Rutger Hauer (que já atribuiu zero estrelas à película), A Morte Pede Carona ainda fascina pela tensão provocada pela perseguição de Ryder a Halsey, num tempo em que a comunicação era bem limitada (nada de celulares ou Internet) e tornava qualquer pedido por ajuda muito mais complicado.
Dirigido pelo desconhecido Robert Harmon (que construiu sua carreira voltada para filmes televisivos), A Morte Pede Carona nos ensina que, da próxima vez que estivermos na mesma situação de Halsey, nada melhor que uma boa garrafa térmica de café a tiracolo e nada de parar para Caroneiros. Tudo isso, é claro, para evitar que uma simples viagem de carro se transforme num enorme pesadelo.


Curiosidades sobre o filme

Sim, caros leitores, a tensão era real!

 -C. Thomas Howell admitiu ter ficado com medo de Rutger Hauer durante as filmagens e fora das locações, devido à intensidade com quem o ator incorporou o papel de John Ryder;

Será que ele recebia seu pagamento em Latinum?

-Conhecido dos fãs de Star Trek – Deep Space Nine, onde interpretava o Ferengi Quark, Armin Shimerman faz uma participação especial interpretando um detetive que tenta interrogar o personagem de Hauer;

O especial do dia era Filé ao Molho Replicante

 -Numa cena, o personagem de Howell entra num local chamado “Roy’s Cafe”, uma clara referência ao personagem de Hauer no clássico Blade Runner (1982);

Aceita batatas fritas como acompanhamento, senhor?

 -O script original era tão extenso que o filme poderia ter a duração de 3h! Muitas cenas ficaram de fora, como a de Ryder trucidando uma família inteira; um olho humano aparecendo no meio de um hambúrguer (isso foi substituído pela cena do dedo em meio às batatas fritas); uma pessoa sendo decapitada. Após muitas revisões, as cenas foram descartadas.


Citações

“Minha mãe me disse para nunca fazer isso.” – Jim Halsey.

“Achei que ele me ajudaria a ficar acordado.” – Jim Halsey.


A Morte Pede Carona (The Hitcher, EUA, 1986). Elenco: Rutger Hauer, C. Thomas Howell e Jennifer Jason Leigh. Direção: Robert Harmon.


TRAILER LEGENDADO





Fotos: Divulgação/Internet.

Informações adicionais: IMDB

quinta-feira, 19 de abril de 2018

FRAMES-RETRÔ: Ninguém está a salvo quando chega A Hora do Lobisomem

Fábio Pereira
xanderfbi@hotmail.com

Segundo o folclore popular, a Licantropia é a maldição recaída sobre um ser humano que adquire a capacidade de se transformar em um lobo. No cinema oitentista, temos vários exemplos de como os lobisomens podem tanto fascinar, como assustar os menos corajosos. Além dos clássicos Grito de Horror [leia o review] e Um Lobisomem Americano em Londres (ambos de 1981), outra referência é A Hora do Lobisomem (também conhecido como Bala de Prata por aqui). Vagamente baseado no livro O Ciclo do Lobisomem, do mestre do terror Stephen King (responsável pelo roteiro adaptado), A Hora do Lobisomem é uma película mais voltada para um entretenimento rápido e sem expectativas maiores, tornando-se uma obra menor que os clássicos já citados acima, mas que ainda envolve o espectador pela trama de terror e suspense.
Sangrento, A Hora do Lobisomem é uma produção que não se preocupa em construir uma mitologia sobre a criatura (algo brevemente comentado por um dos personagens principais), mas foca em explorar o lado animalesco e fatal do ser que destroça pessoas na escuridão e se torna implacável em noites de lua cheia.
Na trama, que se passa no ano de 1976 (!), na fictícia cidade de Tarker’s Mills, uma série de assassinatos brutais começa a assustar a comunidade, que suspeita de um serial killer. Quando nem a lei local consegue impedir os crimes, Marty (o saudoso Corey Haim,

Marty em sua "Silver Bullet"

de Os Garotos Perdidos [leia o review]), um jovem paralítico, descobre que um lobisomem está por trás de tudo e resolve caçá-lo, com a ajuda de sua irmã e seu tio.
Num tempo em que o CGI ainda dava seus primeiros passos no cinema (O Enigma da Pirâmide [leia o review] foi o precursor), a equipe de produção, responsável pela confecção da criatura, falha em muitos pontos, mas acerta em outros. O lobisomem, que mais parece um urso bem peludo (quando focado em plano aberto), só funciona quando mostrado em closes fechados. Já a cena de pesadelo do reverendo é a que realmente impressiona. A comunidade, que aos poucos vai se transformando em lobisomens, revela um esforço satisfatório da equipe de maquiagem, que também fica com pontos extras ao mostrar a criatura voltando ao seu estado natural. Com uma trama com poucas atuações em destaque, A Hora do Lobisomem, dirigido pelo desconhecido Daniel Attias, ainda vale a pena pelos sustos e o mistério que envolve a verdadeira identidade da criatura inumana.


Curiosidades sobre o filme

 

Ainda bem que o álcool é anestésico


-Gary Busey, que fez suas próprias cenas de luta com o lobisomem, sem o auxílio de um dublê, realmente se machucou na cena em que é arremessado contra um espelho.


Citações

“O rosto da Besta sempre se fará visível e seu tempo sempre passará.” – Reverendo Lowe.

“Os psicóticos são assim em noites de lua cheia. E esse cara é um psicótico. Quando o pegarem, você verá que ele é humano, assim como nós.” – Tio Red.

“Se contarmos a algum adulto, ele vai rir. Então, o que vamos fazer?” – Jane.

“Estou muito velho para brincar de lobisomem.” – Tio Red.


A Hora do Lobisomem (Silver Bullet, EUA, 1985). Elenco: Gary Busey, Corey Haim e Everett McGill. Direção: Daniel Attias.


TRAILER LEGENDADO


 

Fotos: Divulgação/Internet.
Informações adicionais: IMDB

O Criador Insano

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